
Deu um tapa desviando a mão da mulher, recusando a ajuda que ela oferecia para se levantar. Levantou-se e começou a limpar as roupas de um pano branco e simples das várias folhas presas.
-Não vou ir a lugar nenhum.
-E por que não vai? – Perguntou ela com uma voz intrigada, mas sem perder a beleza e calmaria.
-Eu tenho mais o que fazer.
-E esse “mais o que fazer” seria fechar os olhos para a verdade?
-Esse “mais o que fazer” seria o que eu quero, o que eu faço desde sempre. Mas não tenho que lhe dar explicação nenhuma.
-Esperava ao menos um pouco de educação.
-E eu esperava poder ficar sozinho de novo, mas aparentemente isso não está acontecendo.
-E nem vai acontecer enquanto você não for ver a prova de que os deuses existem.
-E vai fazer o que? Vai morar comigo?
-Exatamente. Ficarei contigo até você decidir ver a minha prova.
-Então passaremos o resto dos nossos dias juntos.
-Então, que assim seja.
Ele olhou para ela com um pouco de curiosidade, estreitando os olhos e imaginando o porquê ela estava fazendo aquilo. Era só uma prova de algo que não mudaria em nada a vida dele ou dela. Ficou poucos segundos assim, e quase sussurrou algo parecido com “faça o que quiser”, se virou e começou a andar de volta para sua casa.
-Aonde você mora? – Ela perguntava enquanto olhava para baixo. Praticamente não caminhava, dava pequenos saltos e brincava com as folhas caídas.
-Não muito longe daqui.
-Extremamente exata tua resposta, me diz com bastante clareza aonde moras. – O tom irônico proporcionou à própria Calíope risadas, ficando sozinha no ato. O rosto de Hidrael estava fechado, não lhe agradava a idéia de ser motivo de piadas.
-Se não está pronta para todas as respostas não devia fazer todas as perguntas. Você verá quando chegarmos e poderá tirar suas próprias conclusões que serão um tanto quanto inúteis. – Respondeu em tom seco, encerrando aquele assunto. Ou ao menos tentando.
-Nossa, Salvador. Não devia falar coisas tão duras para uma senhorita como eu, deveria ser algo para ser punido, tamanha a monstruosidade das tuas palavras.
-Nossa, senhorita. Não devia falar tanto, isso deveria ser algo para ser punido, tamanha a tortura pela qual me faz passar. – Os passos de Calíope pararam, assim como não se fez mais ouvir sua voz. Hidrael deu mais alguns passos antes de perceber isso, fechou os olhos e, com um sorriso, se virava falando. – Não consigo acreditar, realmente fiz a Musa se calar! É um milagre!
Olhou espantado, percebendo que Calíope não estava parada. Ela não estava em lugar algum. A Musa havia simplesmente sumido, desaparecido em um piscar de olhos. Olhava freneticamente para os lados, tentando achar a mulher. Foram poucos segundos fazendo isso até que uma mão suave tocou seu ombro, e uma voz doce e quente lhe falou ao pé do ouvido, de forma a lhe dar arrepios.
-Ainda não comecei a torturá-lo do modo mais divertido... lhe avisarei quando eu começar. Bobo. – A última palavra fora dita de forma tão apaixonante, tão chamativa, apelativa. Fora dita de forma tão eloqüente, com o intuito de mostrar o lado “mais homem” do garoto, que conseguiu. As palavras mal tinham sido terminadas e Hidrael já estava se virando, colocando o braço na altura de onde deveria ser a cintura de Calíope e fazendo um movimento para juntá-la ao seu corpo mas, tão rápido quanto tinha sumido e aparecido, ela já estava fora do alcance do homem, com um sorriso no rosto e mãos nas costas, com os dedos entrelaçados. – Viu, Salvador? Nem comecei nada ainda e já queres meu corpo junto ao teu.
-Afasta-te, bruxa. Não preciso de alguém que me deixe confuso por perto. – A voz saía com uma mistura de apelo com ordem e desprezo. Seu rosto estava fechado, e ele abanava a mão enquanto falava essas palavras, como que afastando o cheiro da mulher que estava impregnado no ar. – Continue com isso e darei um jeito de lhe colocar sete palmos debaixo da terra.
-Tudo bem, tudo bem. Como é nervoso, deuses. Não faço mais esse tipo de brincadeira, pronto. – Voltava a caminhar, fazendo um biquinho e uma cara de sentida. Andava normalmente agora, sem demonstrar a alegria de antes. Hidrael ficou parado, olhando desconfiado para Calíope e se perguntando o que era isso que ela estava fazendo agora, se seria mais algum truque. Vendo a falta de movimentação, Calíope falou, ainda olhando para baixo. – Não sei se te esqueceu, mas eu não sei o caminho da tua casa. Se for indo na frente para que eu possa segui-lo, ficaria grata.
Ele deu um pequeno passo e aos poucos acelerou, para voltar até sua casa. O caminho era bastante irregular, marcados por alguns cogumelos e folhas secas no chão. Uma árvore ou outra possuía flores, todas ainda fechadas, se preparando para desabrochar na hora certa, se preparando para encantar o olhar de todos os que as vissem. Foram mais alguns minutos de caminhada constrangedora aonde o que reinava era um silêncio mortal, quebrado pela doce voz da mulher, precedida de uma respiração que demonstrava um pouco de cansaço.
-Já chegamos?
-Não Musa, ainda não chegamos. – Foram alguns segundos de silêncio até que a mulher repetiu a pergunta, na mesma entonação, da mesma maneira. E assim também se fez a resposta, da mesma maneira que a primeira. Mais e mais vezes foi feita a pergunta e dita a resposta, até que, no auge da irritação, fez-se a pergunta e a resposta veio, dizendo um inesperado “sim, chegamos”.
A mulher arregalou um pouco os olhos, surpresa com a resposta e estacou. Mudou a direção do chão para Hidrael e, logo depois, para o local que ele chamava de lar. As árvores todas pareciam parar em um mesmo lugar, fazendo um semicírculo ao redor da cabana, fechando um cerco marrom, amarelo e vermelho. A grama rala e baixa possuía um cheiro mais forte que se misturava com carvão e ferro esquentado. Ao redor da casa algumas poucas espadas estavam espalhadas, assim como lanças, machados, maças, porretes e partes de armaduras diferenciadas. A cabana parecia ser pequena e era feita em sua maioria de madeira, com uma palha bem ajeitada cobrindo ela. Calíope deu uma olhada para Hidrael, com uma leve virada do rosto. Seus olhos perguntavam se ela podia andar livremente pela casa e os arredores dela. Não queria irritar seu anfitrião. Seus olhos ficaram parados durante alguns segundos, fitando o homem que parecia não percebê-la mais. Seus olhos corriam pelo casebre e pelos materiais jogados ao chão até que ficou preso onde estavam uma bigorna e placas de pedra. Seus olhos estavam opacos, como se visse ali algo que não queria ou não devia. Ela ficou-o encarando até ele dizer alguma coisa.
-Sinta-se
-Tudo bem, acho que consigo me ajeitar agora. Obrigado. – Dizia de um jeito meigo, dando um sorriso verdadeiro e estranhamente caloroso e gentil.
Hidrael estreitou os olhos, virando-se e saindo do lado dela. Um enorme avental de couro estava jogado no chão, assim como grandes luvas do mesmo material e cor. Vestiu ambos os acessórios antes de começar a acender a forja. A última coisa que Calíope pôde ver foi Hidrael pegando o martelo depositado sobre a bigorna. Estava parada à porta e sua mão desceu pela lateral da porta, precedendo sua entrada na humilde casa.
A Musa caminhava lentamente, com extrema graça e meiguice. Seus dedos estavam entrelaçados, com as mãos às costas. Olhava tudo, analisando cada centímetro percorrido. Vez ou outra parava, segurando algum objeto nas mãos, dando um risinho ou erguendo uma sobrancelha e devolvendo-o ao seu lugar original. As paredes eram, obviamente, também feitas de madeira. Nelas, prateleiras ou armários de madeira e mármore. Vários utensílios de diversos formatos, tamanhos, cores e matéria prima podiam ser vistos. Alguns eram tão absurdamente estranhos que Calíope não ousava chegar muito perto. Passou por uma sala, com uma pequena lareira no centro. Uma fumaça negra subia e algumas partes da madeira ali depositada na noite anterior ainda eram brasas, lutando para continuarem acesas.
Saía de um cômodo em direção ao outro, testando cadeiras ou abrindo e fechando janelas. Um ou outro lugar eram extremamente pequenos, com pilhas e mais pilhas de madeira ou pilhar e mais pilhar de barras de ferro puras. Entrou em um lugar pequeno, aonde somente uma cama e um bidê o enfeitavam. Ela entrou no lugar, deitou-se na cama e olhou para o teto. O travesseiro e os lençóis estavam desarrumados, então ali provavelmente era o quarto de Hidrael. Sentou-se na beirada dela e olhou para a porta e, com certa incredulidade, percebeu que um espelho havia lhe passado despercebido. Levantou-se e caminhou até ele, estacou na frente e ficou olhando para si mesma. Fitou a imagem refletida por alguns segundos, até que o espelho enegreceu. Seus olhos espantados fitavam a imagem criada enquanto seu cérebro tentava freneticamente entender o que era aquilo.
Esfregou as mãos, enquanto dava um passo à frente, com certo receio. Uma fumaça incessante tornava impossível ver qualquer coisa. Um baque ensurdecedor precedeu o vidro se quebrando, enquanto duas asas negras saíam pelas extremidades. Mais um baque e o vidro se estilhaçou, e o torso de um vulto negro saiu do espelho. Olhos um segundo inexistentes, em outro se tornaram brasas vivas e toda a sombra começou a tomar conta do quarto, arrastando Calíope para junto da fumaça negra, mostrando-lhe uma cena que lhe aterrorizou profundamente.
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Bem, aqui está o segundo capítulo da Fic. Demorou consideravelmente pra sair, mas agora eu já tenho ela mais traçada e acho que vai vir mais constantemente... Também tenho que pedir desculpas pela demora do post, fiquei muito tempo fora e... bem, o que eu fiz nesse período não é da conta de vocês, mas eu venho em um post qualquer dia desses explicar. Como sempre estou aberto a críticas, apesar de que eu gostaria bastante se me dissessem que o cap tá muito bom e tudo o mais XD Imagem do post é a própria Calíope aqui da minha fic =O achei ela bem bonitosa... pena que esqueci do DA de onde puxei ela =/ Mas saibam que não tenho nenhum direito sobre as imagens que uso nos posts XD *foda-se, ninguém lê isso mesmo. nem tem como verem eu fazendo isso @_@*
É isso, em 1~2 dias eu to trazendo o terceiro capítulo aqui pra vocês.
See ya, folks ^^'
foi foda, acho q eras d da mais uma interpretação entre os 2 trividinhos ants d colok uma começão d cu, c num o negócio vai mto rápido (e eu curti mto eles dialogando).
ResponderExcluirConcordo com o mayuri, mas começão de cu pode ser em qualquer momento, só achei estranho, ele querer pegar ela e dps ignorar, bem estranho, e ficou bom para alguem novo no ramo
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